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domingo, 26 de maio de 2013

DJS DO COLETIVO.



Ônibus lotado. Sexta-feira. Rostos cansados de um fim de tarde. Variadas fragrâncias de suor.
Estou ansiosa para chegar em casa depois de um exaustivo dia. O sono intenso atrapalha minha leitura. É nessa hora em que, no coletivo, adentram dois rapazes com suas bermudas quase calças, suas camisetas quase vestidos e correntes douradas que serviriam muito bem pra fechar meu portão junto de um cadeado médio.
Despertei!
Eles pararam em pé bem ao meu lado. Continuei com os olhos cravados no livro, mas a concentração já havia se perdido em quilômetros anteriores do meu trajeto intermunicipal.
Minha atenção se volta aos movimentos dos jovens. Guardo minha leitura. Cada um retira do bolso um aparelho celular (última geração, claro), selecionam a música da preferência e colocam todos do ônibus para curtir. Um rap, do qual não se entendia uma palavra, e um funk, igual a todos os outros. No último volume, os ritmos se associam e se misturam ao som da rádio FM escolhida pelo motorista, às gargalhadas de alguns passageiros e ao silêncio de outros.
Ao redor, percebo pessoas incomodadas. Umas comentam, outras xingam, enquanto eles, felizes, cantam, parecendo fazerem parte de um universo particular.
Ao meu lado, uma moça pensa alto:
- É brincadeira!
Em poucos segundos, obviamente tomada por uma grande revolta, ela extrai da bolsa seu aparelho celular e escolhe, também, a música de sua preferência: um axé. Aumenta o volume e ri alto, vingativa. Contida, ainda balança os ombros ao som do swing baiano.
Permaneço observando a cena. Pauso para reflexão.
Facilmente, aquele espetáculo configuraria um episódio de qualquer programa de humor.
Tive a certeza de que a popularização e modernização dos aparelhinhos de comunicação retiraram de muitos a noção de etiqueta. Se é que sabem o que é isso...
Bom senso? O que é isso mesmo? Não... Não sabem o que é. Ou, duas últimas possibilidades: não foram apresentados aos fones de ouvido ou ainda não tiveram dinheiro para adquiri-los.
A essa altura, o coletivo fervia. Eu, disfarçadamente, ria. Afinal, eu estava diante de Djs, sem pagar nada. Meu estresse não resolveria aquela comicidade. Preferi ser feliz, esperar a hora de puxar a cordinha para descer no meu ponto e, claro, compartilhar minha impressão

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